12/17/2006

O Botão


Cansada de ser esquecida no canto, a escuridão decidiu mudar. Aquela mesmice, aquele frio. Sim, sempre foi bom, cômodo. Mas havia se cansado, e aquilo bastava pra preparar suas malas e partir para uma nova jornada.
Não lembrava onde estavam as malas. E não mais que de repente, lembrou que nunca as possuíra. Não tinha muitas coisas afinal. Ali não precisava de muita coisa, às vezes nem lembrava dela mesma. Oh, mas não poderia esquecer de seu jogo de xícaras para o caso de receber visitas em sua nova casa. Estava novo, nunca havia usado, exatamente por falta das visitas, mas também nunca utilizara para si mesma. Afinal precisava de um momento importante e só ela não havia importância alguma.
Percebeu que suas roupas estavam velhas. Um cheiro de mofo que se confundia com sua própria pele. Não iria levá-las então. Iria nua. Só aí se deparou consigo mesma. Não necessariamente foi um reencontro consigo mesma. Era um encontro. Depois de sempre ela enfim percebera-se. Levava uma vida inteira para notar-se. E não se orgulhava do que viu.
Não viu nada. Tudo era mancha. Um rabiscado. Começava a sentir ódio daquele lugar para no mesmo instante notar que não havia diferença entre o lugar e ela mesma. Tudo era mancha. Tudo era mal feito. Sentiu pena daquele lugar. A culpada era ela por ter tornado ali uma continuação sua.
Mas não podia desistir. Era agora ou nunca. Desprender-se de tudo, mas antes ainda livrar-se de si mesma. Era isso. A escuridão decidiu que a melhor forma de fugir ( não sair como antes havia pensado) era morrer antes. Tudo ali era muito ela. Tudo ali era muito seu. Encarou-se. Duvidou. Sabia dos riscos, e decidiu-se arriscar-se. Não. Não sabia dos riscos. Não sabia o que viria depois, mas sabia que qualquer coisa seria melhor do que já era-estava.
Respirou fundo. Oh, o que era aquilo. Estava inebriada com o ar. Tão simples e nunca tinha parado para sorvê-lo. Sentiu-se tonta. O medo estava dentro dela. Tudo ocorria muito rápido. Ar-medo. Era o momento. E ela sabia que caminho tomar.
Correu para não desistir. Não queria sentir. Não sabia se fazia sentido. Não olhou para trás. Na verdade olhou, mas não desistiu mesmo assim. Olhou. Nada viu. Sabia que era ali. O botão. Iria apertar o botão. Seria seu fim.
Apertou. E fez-se a luz. Numa fração mínima de tempo a escuridão esvaiu-se. Nada sentiu. Tudo foi inundado pela luz. Ela havia morrido. Não houve tempo para saborear um momento tão lindo. Mas a luz sempre seria agradecida por nunca tê-la conhecido.

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4 Comments:

Blogger @ said...

huuuuuuuuuuuuu
profundo...
texto meio linspector
rsrs
haaaa imagem perfect!
vou rouba-lá p meu proximo post...
vlws?
flw.

3:58 PM  
Anonymous Anônimo said...

olaaa gil ^^

nossa como vc escreve super bem
adorei esse seu texto... tem um pouco a ver comigo tb algumas partes!

olha eu ali na imagem me jogandoo... tu achou onde essa foto minha? kkkk :P zoeira

abraço! se cuida

4:52 PM  
Anonymous Anônimo said...

"(...)e fez-se a luz(...)"

abraços, rapaz, fique bem

6:45 PM  
Blogger Unknown said...

Muito bom....
nao deu tempo ler tudo....
mas deu pra perceber que vc escreve muito bem...
parabens.

8:36 PM  

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